Revitalização da área portuária

Debate público

Aspásia Camargo [Socióloga e Vereadora, Presidente da Comissão do Plano
Diretor]
Eliomar Coelho [Engenheiro e Vereador]
Sergio Magalhães [Arquiteto e Urbanista]
representante da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro (a confirmar)

quando: 19 de outubro, segunda-feira, 15:00
onde: PUC-Rio [Rua Marquês de São Vicente, 225, Gávea] auditório do RDC

Organização:
Curso de Arquitetura e Urbanismo, Departamento de Sociologia e Política e
Departamento de Serviço Social da PUC-Rio
[profs. Ana Luiza Nobre, Marcelo Burgos, Maria Alice Rezende de Carvalho e
Rafael Soares Gonçalves]

Rio passado presente futuro

Frederico Coelho

no blog objeto sim objeto não

O Rio de Janeiro começou na Baia da Guanabara. Esta óbvia informação nem sempre é levada em conta quando, em um momento como o atual, os cariocas repensam a sua cidade e a sua história. 516 anos após os portugueses aportarem na boca banguela e construírem sua casa nas margens do rio Carioca, o Rio de Janeiro sediará os jogos olímpicos. Vale a pena pensarmos como será a cidade quando novos estrangeiros – dessa vez não conquistadores, mas consumidores – aportarem novamente nas águas da Guanabara.

Não, não se trata aqui de futurologia, mas de levantar alguns pontos que devemos ter em vista quando lemos nos jornais que o poder público carioca pretende injetar dezenas de bilhões de reais em prol de uma nova estrutura para a cidade visando a tão propalada e bem vinda Olimpíada. Há dias atrás, o urbanista Sérgio Magalhães fez um alerta que todos devemos levar em consideração: por que a cidade, historicamente fundada a partir de sua parte central, ocupada a partir de suas praias e de seu subúrbio, precisa necessária e inexoravelmente caminhar em direção à Barra da Tijuca? Aviso logo que a Barra e toda a Zona Oeste merece – e precisa – de todo o nosso apreço e interesse. O Rio de Janeiro, porém, tem dívidas seculares com regiões que, assim como a Zona Oeste, são sistematicamente abandonadas pelo poder público.

Moradores da região central e Zona Norte da cidade vivem há tempos uma indigência urbanística e cultural, devido o pleno aporte financeiro e institucional que, governo após governo, situa a Zona Sul e a Barra como espaços privilegiados. Desde as reformas de Pereira Passos e Carlos Sampaio no início do século XX, o ímpeto de uma modernização da cidade feita “de cima para baixo” fez com que populações pobres perdessem espaço e voz na construção e uma identidade carioca. Apesar do samba e do carnaval permanecerem como bens maiores da cultura carioca, há tempos que poucos vão além da Lapa ou do sambódromo para freqüentarem os espaços originais de criação destas manifestações. E não me refiro ao programa turístico de ensaios em quadras das escolas ou visitas esporádicas para feijoadas com samba. Me refiro a uma relaçao orgânica entre as partes da cidade e sua população.

O carioca, em 2009, se mora na Zona Sul não enxerga o subúrbio muito além das manifestações de violência ou depredação contínua que os meios de comunicação propagam diariamente pelos jornais. Se ele mora na Zona Norte, enxerga a Zona Sul como espaço privilegiado e inacessível do ponto de vista do lazer, do consumo e da presença. A cidade partida de Zuenir Ventura ainda impera, em maior ou menor grau dependendo do tema em questão. Mas o governo atual, por motivo das olimpíadas, e governos anteriores, por motivos pouco claros, permanecem afirmando que a cidade deve caminhar sem volta para a Barra da Tijuca. O eixo histórico do Rio – Baia da Guanabara, Zona Portuária, Rio Carioca, Leopoldina, Centro da Cidade – fica minorizado em prol de novos e mega empreendimentos imobiliários que interessam ao mercado mas interessam muito pouco aos cariocas. Creio que até mesmo os moradores da Barra já achem que o bairro está estrangulado com o boom de prédios, instalações, megaeventos, shoppings, hipermercados, prédios comerciais etc. Um bairro que nasce com a vocação de bucolismo e vida alternativa frente ao emaranhado de prédios da Zona Sul, torna-se paulatinamente um nó de avenidas engarrafadas, excesso de carros, mendicância etc. Talvez, antes do governo e da prefeitura terem certeza de que todo o carioca deve rumar para a Barra, seja mais prudente pensarmos que um legado histórico como esse não pode servir apenas para investir em uma modernidade arquitetônica de vastos espaços e metrôs milionários.

Da janela do MAM, vejo a Baia da Guanabara. Hoje, chove. Os mendigos se escondem sob as marquises de Reidy. O vento forte castiga as palmeiras dos jardins. Se depender do governo, tudo isso permanecerá para trás. A Barra brilhará com suas obras faraônicas e suas longas avenidas buzinadas. Eles querem investir na Zona Portuária, porém não querem que a Olimpíada caminhe para lá. Milhares de turistas adentrarão a cidade pela Guanabara. Que permanecerá, cada vez mais, como uma boca banguela.

Cabe a nós, cariocas, não permitir que isso aconteça. Novamente, este texto não é contra a Barra e a Zona Oeste (onde eu passei toda minha juventude, de forma sensacional). Este texto é contra a histeria gastadora sem critério que o planejamento urbano carioca pode ser refém. Não querem repensar a cidade. Querem construir, ocupar, gastar. O MAM, a Glória, o centro, a Leopoldina, só servem como molduras de idéias que nunca acontecem por parte do poder público.

As olimpíadas do Rio precisam começar pela Baía da Guanabara. O resto é presepada boquirrota de prefeito e gogó empapado de governador.

Inventário da ausência (7)

vídeo por Hugo Braule


Fábrica

Rua Orestes 28, Santo Cristo, Zona Portuária, Rio de Janeiro


Vitor Garcez

Confesso que o andamento das discussões em torno dos “projetos” para a Zona Potuária tem me deixado com um certo enjoo de falar no assunto. As últimas informações dadas pela Ana Luiza Nobre no Posto 12 não são lá muito animadoras e muitas águas ainda vão rolar nessa semana que começa.

Neste sábado estive no Santo Cristo, bairro na Zona Portuária, para um evento chamado de “Fabrica”, que aconteceu em uma parte da antiga fábrica de chocolates Bhering.

A fábrica foi ocupada por intervenções de doze jovens (Anna Costa e Silva, Julio Gadelha Parente, Marcela Florido, Gabriel Jaguaribe, Gustavo Liuzzi, Esther Barki, Bhagavan David, Luiza Melo, Maria Carolina Barreto, Thiago Catharino, Isabela Baptista e Felipe Bardy).

O lugar é incrível e foi marcante ver aquele grupo de pessoas —grande, diga-se de passagem— ocupando uma fábrica no meio da Zona Portuária do Rio em um momento em que se discute justamente a “revitalização” desses bairros.

Boa parte das pessoas que estavam lá provavelmente não imaginavam como era aquela “outra cidade”, apesar de muito próxima da “Cidade do Samba” (projeto de Sergio Dias, atual secretário municipal de urbanismo) e do futuro “Aquário Municipal” (projeto do arquiteto Alcides Horácio Azevedo).

Então, não digo que fiquei com esperança de que essa ocupação da fábrica possa ser relevante pro que se discute hoje em torno da Zona Portuária. Não pelo evento em si, que tem caráter isolado, mas talvez pelas pessoas que estiveram lá e que podem olhar a cidade de outra forma, diferente dos que estão à frente dos projetos que pretendem, às pressas, lotear essa parte do Rio, sem pensar nas consequências disso.

Então que venham outras iniciativas como essa...

Porto Maravilha (3)

Ana Luiza Nobre acaba de responder no Posto12 à minha pergunta:

"Recebi da vereadora Aspásia Camargo o calendário das próximas audiências públicas na Câmara de Vereadores: nesta sexta, às 9:30, será discutido o Projeto de Revitalização da Zona Portuária. Já o Plano Diretor será discutido em sessões temáticas assim organizadas: 14/09, 18:30, Transporte; 15/09, 9:30, Macrozoneamento e Desenvolvimento Econômico; 21/09, 9:30, Meio Ambiente; 22/09, 9:30, Saúde; 24/09, 9:30, Educação e Assistência Social; 29/09, 9:30, Turismo e Cultura; 01/10, 9:30, Habitação; 06/10, 9:30, Urbanismo. As reuniões são abertas a todos. Eu vou."

Porto Maravilha (2)

Parece que ontem aconteceu um debate na Câmara Municipal sobre o 'Porto Maravilha'. Soube tarde demais, mas estou atrás de alguém que saiba se concluiu-se algo...


Rio de Janeiro, 8 de setembro de 2009.

Porto Maravilha em debate

Com o objetivo de ampliar a discussão sobre o projeto do Porto Maravilha, o mandato Eliomar Coelho promoverá reunião nesta quarta-feira no auditório da Câmara Municipal, às 18h, para a qual foram convidados representantes das instituições de pesquisa e planejamento urbano, lideranças locais e órgãos públicos engajados na defesa do Direito à Cidade. Lançado em fins de junho, o projeto prevê a instalação de uma Operação Urbana Consorciada, com grandes empreendimentos imobiliários que seriam viabilizados ao lado de um intenso processo de “limpeza social” e elitização dos usos e funções dos bairros atingidos. Os três projetos de lei de autoria da Prefeitura que chegaram ao Legislativo receberam, em menos de um mês, pareceres favoráveis de quase todas as comissões da Casa. O açodamento com que se tenta aprová-los causa-nos o temor de que está por vir mais um conjunto de intervenções marcadas pela falta de transparência, de razoabilidade e do respeito aos direitos fundamentais – particularmente dos moradores mais antigos da região, tão esquecidos pelo Estado nos últimos anos.

Inventário da ausência (6)

Continuem assinando:

Inventário da ausência (5)



Fotos: Ni da Costa

Inventário da ausência (4)





Fotos: Ni da Costa

Inventário da ausência (3)




Fotos: Clarisse Tarran

Inventário da ausência (2)




Fotos: Clarisse Tarran

Inventário da ausência

Aconteceu hoje a intervenção no painel de Aluísio Carvão na rua Mário Ribeiro (Lagoa-Barra). A iniciativa é de Clarisse Tarran e Mario Fraga. Eu apóio como posso.
Ontem passamos o dia cortando os quadrados pretos e numerando para colocarmos hoje no local e acabou dando tudo certo. Até a polícia, que pediu que parássemos de colar os falsos azulejos pretos, acabou apoiando depois e pudemos terminar. Nem a chuva persistiu. Ótimo também foi o apoio de muitos dos que passavam pela Lagoa-Barra, apesar de nem todos terem entendido. As pessoas presentes não eram muitas, mas foi bonito ver a mobilização de todos.



Fotos: Clarisse Tarran

Arte pública: Aluísio Carvão

Também n'O Globo, saiu uma reportagem de Suzana Velasco falando sobre o painel do Aluísio Carvão, que foi omitido na reportagem anterior publicada na capa do Segundo Caderno do mesmo jornal. Neste domingo, às 12h será feita uma intervenção no painel, em que serão colados "azulejos falsos" numerados um a um, para que se possa ter ideia do número de azulejos e do possível sumiço de mais deles. O acontecimento será acompanhado também por este blog. A intervenção e o abaixo-assinado são iniciativas do Mario Fraga e a Clarisse Tarran e conta com o meu apoio.

O abaixo-assinado continua esperando por mais assinaturas. Hoje, contou com o nome do herdeiro de Aluísio, Aluísio Carvão Júnior. Pra quem ainda não assinou, o link está em destaque na coluna da esquerda do blog.

Clique na imagem pra ler

Enquanto isso... (8)

Engraçado, pra não dizer triste, o palpite de Luiz Garcia em sua coluna n'O Globo de hoje, 4 de setembro. O título do texto não é uma ironia, para os que pensarem ser numa primeira passada de olho. O Globo sempre esquece de convidar pra escrever alguém que saiba o que diz.

Clique na imagem pra ler

Aliás, passar pelo "lugar onde o bonde fazia a curva" no final de Ipanema ficou mais leve depois da demolição da passarela do amigo do Luiz Garcia.

Paineiras (2)


Francesco Perrotta Bosch*

Na noite do dia 31 de agosto, foram apresentados os trabalhos que concorreram ao
Concurso Paineiras e divulgados os vencedores. O resultado escancarou mais uma vez que a arquitetura carioca está em crise. Comparando a uma partida de futebol, os escritórios cariocas perderam de goleada para os paulistas: 4x1. Os três primeiros lugares e mais uma menção honrosa foram destinados a projetos propostos por grupos de arquitetos da cidade de São Paulo. Ao Rio, restou a menção honrosa recebida pela BLAC.

Pessoalmente, diria que os projetos que receberam segundo e terceiro lugares são mais interessantes que o vencedor, o qual me assusta pela proposta de um edifício destinado ao estacionamento e à estação de embarque de pessoas para o Corcovado cuja escala me parece exagerada para o lugar.

O que diferencia os seis trabalhos premiados do restante foram as apresentações gráficas das pranchas. Não afirmo isso por ter visto perspectivas eletrônicas fantásticas, mas sim por uma escolha correta das imagens apresentadas, beleza e clareza nos desenhos e organização na diagramação das pranchas. Eles foram premiados por se fazerem melhor compreendidos, não por terem necessariamente os melhores projetos.

O mais importante é que os arquitetos cariocas reflitam sobre o resultado do concurso.

*estudante de arquitetura da PUC-Rio e co-editor do site Entre

Paineiras


Ana Luiza Nobre

É o seguinte o resultado do Concurso do Hotel Paineiras, anunciado segunda pelo IAB: 1º Lugar: Guilherme Lemke Motta (SP); 2º Lugar: Cesar Shundi Iwamizu (SP); 3º Lugar: Filipe Gebrim Doria (SP); Menções Honrosas: João Pedro Backheuser (RJ); João Paulo Ferreira Payar (SP) e Marcelo de Souza Leão Santos (PE). Não vi ainda os projetos. Mas não posso deixar de me perguntar porque, entre tantos concorrentes (cerca de 100 equipes), só um escritório carioca foi destacado. Ao lado, uma prancha do seu projeto.

Cidade da música


Otavio Leonídio publicou no Vitruvius texto sobre a Cidade da Música:
Cidade da Música do Rio de Janeiro: a invasora. Sua proximidade com Portzamparc —por ter trabalhado no atelier do arquiteto em Paris— é um dos dados interessantes do texto, além de sua análise a partir de questões mais arquitetônicas e menos políticas —que é só como se tem discutido sobre o projeto na imprensa em geral.

Vale também ler o pequeno texto de Ana Luiza Nobre <www.vitruvius.com.br/minhacidade/mc249/mc249.asp> sobre o projeto, que gerou grande discussão no Vitruvius e o texto de Fernando Serapião <www.revistapiaui.com.br/edicao_27/artigo_835/A_opera_do_Pequeno_Principe.aspx> publicado na Piauí.

E agora é esperar que as obras voltem e torcer pra tudo funcionar como se espera...
A última notícia d'O Globo, sobre a volta à obras:

Docomomo


Acontece até amanhã —desde essa terça-feira— a 8ª edição o seminário do DOCOMOMO (Documentação e Conservação de Monumentos Modernos).

Ontem, aconteceu uma palestra de Barry Bergdoll (professor de Historia da Arquitetura do Departamento de Historia da Arte e Arqueologia da Universidade de Columbia, e curador da área de Arquitetura e Design do MoMA de Nova York) e hoje à noite quem fala é Beatriz Colomina (historiadora da Universidade de Princeton).

Vale a pena visitar o blog onde a Marina Piquet está escrevendo sobre o seminário:
<
http://www.docomomo09.blogspot.com/>

A programação completa está aqui:

Enquanto isso... (7)

"AquaRio" no "Porto Maravilha"

Enquanto isso... (6)

Rio Branco


Mais um projeto feito por "técnicos da Prefeitura".

"O projeto de um grande parque urbano com dois milhões de metros quadrados —o equivalente a 13 vezes a área do Campo de Santana— está sendo elaborado por técnicos da Secretaria de Urbanismo para ocupar o espaço de uma das principais avenidas da cidade: a centenária Rio Branco."

n'O Globo: <
http://oglobo.globo.com/rio/mat/2009/09/01/prefeitura-licitara-parque-ao-longo-da-avenida-rio-branco-onde-nao-havera-mais-carros-767423351.asp>

Arte pública: Interdição

Daniel Toledo

Nesta terça-feira vi o vídeo na Galeria do Lago no Museu da República da interdição que o Daniel Toledo fez no mal-dito cabeção do Getúlio, que veio a calhar —certamente intencionalmente— nas discussões sobre a arte pública. Parece que ele já vem "interditando" estátuas há algum tempo, e não só no Brasil, no blog dele <http://homemespelho.blogspot.com/> tem outros exemplos. Ele ficou mais conhecido desde sua obra "Homem espelho", em que andava pela cidade com uma roupa coberta de espelhos.




Arte pública: Aluísio Carvão


Assine este abaixo-assinado pelo salvamento do painel de azulejos de Aluísio Carvão

http://www.abaixoassinado.org/assinaturas/assinar/4918

Datado de 1996, com 300 metros quadrados, localizado na Rua Mario Ribeiro, Leblon (auto estrada Lagoa/Barra), no muro do quartel da PM, o painel de autoria do pintor Aluísio Carvão*, cuja instalação foi supervisionada por ele em detalhes, está se deteriorando. Os azulejos desaparecem diariamente.
Em matéria publicada pelo O Globo, sobre o abandono das obras de arte em espaço público na cidade do Rio de Janeiro, a diretora de conservação de monumentos da Fundação Parques e Jardins, admitiu que o critério para a manutenção das mesmas é o número de reclamações do público, assim, segue a nossa petição para a restauração e conservação do painel.
Tornam-se necessárias providências imediatas antes que seja tarde demais! Aloísio é um mestre da cor e patrimônio da nossa cultura.
* O pintor Aluísio Carvão (1920-2001) nasceu em Belém do Pará e viveu no Rio de Janeiro. Expoente do movimento Neo-concreto, lecionou no MAM - Museu de Arte Moderna -RJ e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Participou de inúmeras bienais e exposições no Brasil e no exterior. Artista consagrado, legou à cidade do Rio, conectando-a com sua própria história, uma de suas últimas grandes obras.

Autores: Mario Fraga e Clarisse Tarran
E-mail: painel.aluisio.carvao@gmail.com

MAM-Rio

Luiz Camillo Osório, o novo curador do MAM do Rio, respondeu hoje a algumas perguntas feitas pelo Raul Mourão e publicadas em seu bRog.

Raul Mourão— Como você ve o atual momento do MAM no cenário das artes plásticas brasileiras? Muitos acham que o museu vive uma crise, que já não tem a importância de outras épocas. Qual o seu diagnostico? Qual o grande desafio do MAM hoje?
Luis Camillo Osório— O momento do MAM é reflexo do momento do Rio. Meu diagnóstico, todavia, é que é mais fácil transformar esta realidade do MAM, do que, por exemplo, a do futebol carioca. Muita coisa precisa ser feita, a primeira delas é tornar o museu mais acolhedor, pensar mais na recepção do público. Junto a isso, criar uma agenda mais propositiva de exposições que para se viabilizar precisa de captação. Dinheiro existe, há que se mostrar que ele ali é bem empregado e que dá visibilidade para quem investe. Não se muda o cenário da noite para o dia, mas pequenos sinais devem ser dados desde o primeiro momento. Quero também que os artistas sintam-se convidados a se mobilizarem e que terão ali uma interlocução digna e produtiva. Uma coisa é certa: o MAM tem história e uma excelente coleção (do museu + a do Gilberto); falta criar uma imagem mais oxigenada para se abrir horizontes de futuro. O sonho de qualquer museu é que as pessoas se dirijam a ele espontaneamente, sabendo que serão bem recebidos e com uma programação de qualidade.

Raul Mourão— A cidade passará por mudanças na zona portuária, a Lapa já é uma realidade, a Praça Tiradentes dá sinais de revitalização. A Casa Daros está em obras e parece que o novo MIS, Pinacoteca do Município e Museu do Amanhã serao construidos de fato. Como o MAM se posiciona no meio desse cenário? Como você enxerga as conexões entre o MAM e a cidade?
Luis Camillo Osório— Tudo que for feito é bom para o MAM. Investimento em cultura puxa mais investimento. Esta história da Pinacoteca, no entanto, independentemente de estar agora na curadoria do MAM, me parece uma enorme furada. É pior do que o Guggenheim, pois não tem nem a coleção deles por trás e nem a simbologia de novidade que haveria no tal projeto abortado. O nome já mostra que é uma idéia do passado. Pinacoteca é coisa do século XIX não do XXI; ficar copiando São Paulo é de um provincianismo anti-carioca. O MAM é o principal museu da cidade e todas as coleções que quiserem vir se agregar tenho certeza que serão bem vindas. Uma cidade que não cuida do seu museu de arte moderna não merece sediar uma olimpíada!

Raul Mourão— Qual o público do museu? Que público você pensa em atrair para o museu?
Luis Camillo Osório— O público do museu tem que ser trabalhado. Há que se abrirem novas frentes. Não pode ser um nicho das artes plásticas e sim um lugar de agregação dos vários segmentos da cultura carioca e brasileira. O público de dança, de teatro, de poesia, enfim, o público de arte tem que saber que ali é também a sua casa. Era assim no passado e iremos trabalhar para isso. O Frederico Coelho, que será meu assistente, fez o doutorado em letras sobre os escritos do Oiticica e o mestrado sobre música popular brasileira. É este universo ampliado que temos que resgatar, propor atividades combinadas, discussões que atravessem estes vários circuitos de criação. O exercício experimental é fermentado em um território poético comum e é isso que devemos viabilizar.


Raul Mourão— Saiu na nota de hoje no Globo que você quer fortalecer as ações de educação e pesquisa no MAM. Fale um pouco sobre isso.
Luis Camillo Osório— Esta resposta anterior já toca na pergunta sobre pesquisa e educação. O artista tem que perceber sua dimensão pedagógica, uma pedagogia não convencional. Além disso, o museu tem que ser uma mistura de laboratório e de escola, ou seja, é um lugar de experimentação e de formação. A atividade educativa com escolas está desmobilizada faz alguns anos e isso tem que mudar. São as escolas que habitam o museu durante a semana e criam um calor necessário para o visitante. Este calor é parte do que eu falava em relação ao acolhimento do museu. Há que se criar programas originais. Trabalhei no MAC com o Guilherme Vergara e quero muito desenvolver projetos com ele nesta área educativa. A educação e a pesquisa são braços fundamentais da curadoria. Outra coisa é este convênio que estou desenhando entre a PUC e o MAM. Sou professor da PUC de tempo contínuo, vou continuar dando aula na graduação e na pós-graduação, orientando dissertações de mestrado e teses de doutorado. Acho que é uma parceria interessante para as duas instituições. Os alunos da PUC - de vários departamentos - podem ir para o museu fazer estágio, ajudar no trabalho e ganhar experiência. Quero incentivar também a discussão de arquitetura e design, além de criar um grupo de estudo em curadoria e para isso vou procurar alunos de pós-graduação e professores da PUC. Enfim, teremos muito trabalho e contamos com o apoio não só do meio de arte, mas de todos os cariocas.

Enquanto isso... (5)

N'O Globo de hoje: "O crítico de arte e professor da PUC, Luiz Camillo Osório será o novo curador do MAM do Rio. Ele entra no lugar de Reynaldo Roels, morto no mês passado, e, entre seus planos está um convênio entre a PUC e o MAM, para recuperar a tradição do museu como espaço de pesquisa e educação."

Enquanto isso... (4)

Entre

Obrigatória a última entrevista do site Entre, com os arquitetos Otavio Leonídio e João Pedro Backheuser.

"Na pauta principal da conversa esteve a cidade do Rio de Janeiro e a situação atual da arquitetura brasileira, especialmente a carioca. Discutimos sobre a trajetória, a parceria, o escritório e os projetos. A entrevista também se ocupou em debater sobre a importância do ensino e da crítica para a arquitetura. Acima de tudo, foi uma análise preocupada e consciente da situação atual da nossa profissão."

Porto Maravilha

O James Corner Field Operations —escritório co-autor com Diller Scofidio + Renfro (vencedor do projeto para o novo MIS) do High Line em Nova York— foi o vencedor de um concurso para o projeto de paisagismo de um píer na Filadélfia, Estados Unidos. Enquanto isso, o Rio terá seu porto revitalizado sem a participação dos arquitetos, sem concurso de projetos, sem discussão. O prefeito Eduardo Paes diz que "o próximo passo é o lançamento de editais para a contratação das empresas para as obras". E os projetos?
Os projetos ficaram por conta dos arquitetos da própria prefeitura. Enquanto na Filadélfia faz-se um concurso para o seu Píer e escolhe-se um grande escritório de arquitetura e paisagismo, o Rio vai ter um jardim no seu píer Mauá. Com direito a chafariz e pórtico neoclássicos, quiosques, decks e um anfiteatro.
Em breve os tapumes aparecem e vai ser tarde demais...

Enquanto isso... (3)

Pra não esquecer:


Vídeo de apresentação do projeto "Porto Maravilha".

Um ícone para Copacabana (6)

O site concursosdeprojeto.org tem publicado os projetos concorrentes do concurso para o edifício do novo MIS do Rio de Janeiro. O último foi o do Bernardes+Jacobsen, antes disso publicou o do Brasil Arquitetura e do Diller Scofidio + Renfro.

Enquanto isso... (2)

E a Cidade da Música?

Arte pública (2)

matéria d'O Globo de hoje, sexta-feira, 21 de agosto de 2009

matéria d'O Globo de domingo, 16 de agosto de 2009

Enquanto isso...

Antiga Rua Larga pode recuperar seu prestígio <http://oglobo.globo.com/rio/mat/2009/08/20/antiga-rua-larga-pode-recuperar-seu-prestigio-757677600.asp>


Passarela em frente ao Obelisco de Ipanema será demolida <http://g1.globo.com/Noticias/Rio/0,,MUL1275494-5606,00-PASSARELA+EM+FRENTE+AO+OBELISCO+DE+IPANEMA+SERA+DEMOLIDA.html>

Arte pública

Vitor Garcez


No início deste ano recebi do querido amigo Mario Fraga um e-mail com um manifesto feito por ele e Clarisse Tarran pela preservação e conservação de uma obra de arte pública, um painel de Aluísio Carvão. Esse foi, para mim, o início de uma movimentação em torno das obras de arte públicas da cidade do Rio. O manifesto que recebi na época eu transcrevo abaixo:

Manifesto pelo salvamento de uma Obra de Arte Pública: o Painel de Azulejos de Aluisio Carvão

Datado de 1996, com 300 metros quadrados, localizado na Rua Mario Ribeiro, Leblon (Estrada Lagoa/Barra), no muro do quartel da PM, o painel de autoria do pintor Aloísio Carvão*, foi confeccionado por Márcia Nogueira, e supervisionado por ele nos mínimos detalhes.

A obra de arte está se deteriorando, os azulejos desaparecem diariamente. Uma tristeza! Onde estão os responsáveis pelo patrimônio público? A quem foi confiada a manutenção do referido painel? Tornam-se necessárias providências imediatas antes que seja tarde demais! Um painel de azulejos deve durar séculos. Aloísio é um patrimônio da nossa cultura e um mestre da cor.

Vamos salvar esta obra de arte que é um patrimônio cultural da cidade do Rio de Janeiro.

*O pintor Aluísio Carvão (1920-2001) nasceu em Belém do Pará e viveu no Rio de Janeiro onde encontrou o ambiente cultural propício para o desenvolvimento de sua arte. Lecionou no MAM-Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, participou de inúmeras Bienais e Exposições no Brasil e no exterior (Alemanha, Japão, México, Suíça e França e outros países).

O manifesto passou por muitas pessoas e uma delas foi o arquiteto Alfredo Britto, que estava fazendo um projeto em parceria com o também arquiteto e ex-governador do Paraná e ex-prefeito de Curitiba, Jaime Lerner. Alfredo me disse que eles estavam realizando para o local onde se instala o 23º Batalhão da Polícia Militar um projeto para um novo parque, o Parque da Bossa Nova, sobre o qual eu já tinha ouvido falar por alto. O projeto realocaria o painel que foi feito especificamente para aquele local para alguma parte do terreno do parque. Sem fazer um juízo de valor do projeto, que tem um edifício a partir da forma de um teclado —segundo matéria da Arcoweb—, é preciso que se pense sobre o valor dessa obra de Aluísio para a qualificação daquele lugar. Se realocado, isso deveria ser feito com muito critério.

No dia 24 de julho último, aconteceu no auditório da Escola de Artes Visuais do Parque Lage um debate que tratou da "Ocupação do espaço público carioca", organizado a partir de um abaixo-assinado que solicitava das autoridades competentes "a formulação de uma política cultural com o objetivo de organizar e de criar critérios para a administração dos monumentos públicos existentes, bem como para a alocação de novos, sejam esculturas ou qualquer outro tipo de interferência". Depois da primeira reunião, uma segunda aconteceu, mas como não pude ir, não soube no que deu. Na primeira, discutiu-se muito, falou-se da cidade, da mediocridade cultural pela qual a cidade passa hoje —já tendo sido capital administrativa e cultural do país. No entanto, o tema central acabou sendo a proliferação das estátuas com homenagens diversas pela cidade, sem qualquer qualidade e pertinência artística ou urbana —do “cabeção” do Getúlio a um deformado Dorival Caymmi acenando com um violão. Isto enquanto artistas tentavam falar em nome da conservação de suas próprias obras de arte públicas.

Mais do que a simples conservação das obras existentes —que acaba parecendo uma questão muito maior do que deveria ser, se esses fossem simplesmente conservados— a proposta da reunião na EAV é a criação de uma política pública para a conservação e aquisição de obras de arte públicas para a cidade, de maneira controlada. No último domingo o Segundo Caderno do jornal O Globo publicou uma matéria de capa sobre este estado de não-conservação de algumas obras importantes na cidade.

Para além da movimentação coletiva em torno do tema, persiste a mobilização de Mario Fraga e Clarisse Tarran em defesa do painel de Aluísio Carvão, que não foi citado em tal matéria.

Essa bossa não é nova

Clarisse Tarran

1.

A cidade veloz esconde, em vidros escuros e em nossa eterna exaustão opaca, o muro que passa. Deixamos de ver o mundo, na pressa ou extenuados. O transeunte, o guarda atento, o cruzamento, o buraco. A hora, o sinal, o degrau, o motorista mau humorado. A cidade transborda.

Na repetição do caminho percebemos a ausência. Um, três, seis, quarenta, duzentas partes faltantes no extenso mural de cor. Percebemos a ausência a cada passagem. Painel de azulejo deveria ser para uma certa eternidade. O artista já nos falta.. E falta o Estado.

O painel de Aluísio Carvão se esvai na auto-estrada Lagoa-Barra.


2.

As últimas manifestações, petição e manifestos na internet, encontro de artistas, curadores e autoridades do governo na EAV do Parque Lage, acerca da falta de critério para as aquisições das peças de arte pública no Rio de Janeiro e o péssimo estado de conservação das mesmas, evoca um contexto maior de como se compreende a cidade e os valores que a permeiam.

O encontro no Parque Lage, convocou a classe das artes visuais que compareceu em peso lotando o auditório da escola numa segundafeira à noite. Na plateia, artistas com esculturas em total estado de abandono, como Ivens Machado, Ângelo Venosa e Chica Grancchi esperavam alguma resposta plausível. Organizado por João Magalhães e Carlos Zílio a comissão formada e diluída na gestão Cesar Maia, por Fernando Cocchiarale, Paulo Herkenhoff, Ernesto Neto, Everardo Miranda, Lauro Cavalcanti (ausente) e outros, explanou historicamente e debateu, rebatendo as argumentações de praxe das autoridades presentes, Washington Fajardo, subsecretario municipal de Patrimônio e Adriana Rattes, Secretária Estadual da Cultura, que dispostos a modificar a situação atual, se comprometeram a recriar a comissão e paralisar as aquisições até segunda ordem.


3.

O painel de Aluísio Carvão, inaugurado em 3 de dezembro de 1996 é situado na divisa do terreno do 23º Batalhão da Polícia Militar com a Rua Mário Ribeiro, entre a Rua Bartolomeu Mitre e Avenida Visconde de Albuquerque, no caminho da autoestrada Lagoa-Barra.

A obra foi realizada pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, através da Secretaria Municipal de Cultura / Instituto Municipal de Arte e Cultura – Rioarte, com apoio da Sub-prefeitura da Zona Sul e do 23º Batalhão da Polícia Militar.

Aluísio Rodrigues Carvão, nascido em 24 de janeiro de 1920 em Belém do Pará e falecido em 15 de novembro de 2001 em Poços de Caldas, Minas Gerais, é considerado “mestre colorista”, pelo “intenso cromatismo de sua arte” e foi “um dos primeiros a se alinhar ao movimento neoconcretista”, participando do Grupo Frente ao lado de Ivan Serpa, Helio Oiticica, Ligia Clark, Ligia Pape, Décio Vieira e Ferreira Gullar, entre outros mais. Participou de muitas mostras coletivas e individuais, trabalhou também como professor, cenógrafo, ilustrador e escultor. Sua obra teve uma trajetória intensa e tem o respeito e admiração de críticos e artistas dos mais considerados.


4.

É realizada uma segunda reunião na EAV do Parque Lage. Sem a mesma divulgação pela web como na primeira. Portas começam a se fechar.

Não pode ser questão de gosto. Não podem esquecer o entorno. A cidade é feita de muitas camadas. Instituições são feitas de pessoas. Pessoas e instituições movem a cidade.


5.

Matéria de capa do Segundo Caderno do jornal O Globo, fala-se das esculturas abandonadas. Celeida Tostes no Parque da Cidade, Ivens Machado na Carioca, Ângelo Venosa no Leme, Amílcar na Primeiro de Março... Sobre o painel de Carvão todos se calam.

A escultura de mais de milhão de reais de Romero Britto antes encomendada pelo governador em 10 parcelas, agora é doada!


6.

O painel de Carvão vai ser derrubado. Em seu lugar mais um parque temático. Na Disney não. Na Auto Estrada Lagoa-Barra. Parque da Bossa Nova. Prédio em forma de piano em 5 andares. Projeto de Jaime Lerner e Alfredo Britto. Do painel? Só a Comlurb, responsável por sua conservação, sabe. Sabe?